quarta-feira, 25 de março de 2009

Textos para digitação

As gramáticas classificam as palavras em substantivo, adjetivo, verbo,advérbio, conjunção, pronome, numeral, artigo, e preposição. Os poetas classificam as palavras pela alma porque gostam de brincar com elas e pra brincar com elas é preciso ter intimidade primeiro. É a alma da palavra que define, explica, ofende ou elogia. Se coloca entre o significante e o significado pra dizer o que quer, dar sentimentos às coisas, fazendo sentido. Nada é mais fúnebre que a palavra fúnebre. Nada é mais amarelo do que o amarelo-palavra. Nada é mais concreto dos que as letras c, o, n,c, r, e, t, o, dispostas nessa ordem e ditas dessa forma, assim, concreto, e já disse tudo, pois as palavras agem, sentem e falam por elas próprias. A palavra nuvem chove. A palavra triste chora. A palavra sono dorme. A palavra tempo passa. A palavra fogo queima. A palavra faca corta. A palavra carro corre. A palavra palavra diz. O que quer. E nunca desdiz depois. As palavras têm corpo e alma mas são diferentes das pessoas em vários pontos. As palavras dizem o que querem, está dito, e pronto, as palavras são sinceras, as segundas intenções são sempre das pessoas. A palavra juro não mente. A palavra mando não rouba. A palavra cor não destoa. A palavra sou não vira casaca. A palavra liberdade não se prende. A palavra amor não se acaba. A palavra idéia não muda. Palavras nunca mudam de idéia. Palavras sempre sabem o que querem. Quero não será desisto. Sim nunca será não. Arvore não será madeira. Lagarta não será borboleta. Felicidade não será traição. Tesão nunca será amizade. Sexta-feira não será sábado nem depois da meia noite. Noite nunca vai ser manhã. Um não são dois em tempo algum. Dois não será solidão. Dor não será constantemente. Semente nunca será flor. As palavras também têm raízes, mas não se parecem com as plantas, a não ser algumas delas, verde, caule, folha, gota. As células das palavras são as letras. Algumas são mais importantes que outras. As consoantes são um tanto insolentes. Roubam as vogais pra construírem silabas e obrigam a língua a dançar dentro da boca. A boca abre ou fecha quando a vogal manda. As palavras fechadas nem sempre são mais tímidas. A palavra sem-vergonha está aí de prova. Prova é uma palavra difícil. Porta é uma palavra que fecha. Janela é uma palavra que abre.Entreaberto é uma palavra que vaza. Vigésimo é uma palavra bem alta. Carinho é uma palavra que falta. Miséria é uma palavra que sobra. A palavra óculos é séria. Cambalhota é uma palavra engraçada. A palavra lágrima é triste. A palavra catástrofe é trágica. A palavra súbito é lenta. Espelho é uma palavra prata. Ótimo é uma palavra ótima. Queijo é uma palavra rato. Rato é uma palavra rua. Existem palavras frias como mármore. Existem palavras quentes como sangue. Existem palavras mangue, caranguejo. Existem palavras lusas, Alentejo. Existem palavras grandes, inconstitucional. Existem palavras pequenas, microscópio, minúsculo, molécula, partícula, quinhão, grão, covardia. Existem palavras dia, feijoada, praia, boné, guarda-sol. Existem palavras bonitas, madrugada. Existem palavras complicadas, enigma, trigonometria, adolescente, casal. Existem palavras mágicas, shazam, abracadabra, pirlimpimpim, sim e não.Existem palavras que dispensam imagens, nunca, vazio, nada escuridão. Existem palavras sozinhas, eu, um, apenas, sertão. Existem palavras plurais, mais, muito, coletivo, milhão. Existem palavras que são palavrão. Existem palavras pesadas, chumbo, elefante, tonelada. Existem palavras doces, goiabada, marshmallow, quindim, bombom.Existem palavras que andam, automóvel, Existem palavras imóveis, montanha. Existem palavras cariocas, Corcovado. Existem palavras completas, elas todas. Toda palavra tem a cara do seu significado. A palavra pela palavra tirando o seu significado fica estranha. Palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra, palavra não diz nada, é só letra e som.
Um galo sozinho não tece uma manhã:ele precisará sempre de outros galos.De um que apanhe esse grito que elee o lance a outro; de um outro galoque apanhe o grito que um galo antese o lance a outro; e de outros galosque com muitos outros galos se cruzemos fios de sol de seus gritos de galo,para que a manhã, desde uma teia tênue,se vá tecendo, entre todos os galos.E se encorpando em tela, entre todos,se erguendo tenda, onde entrem todos,se entretendo para todos, no toldo(a manhã), toldo de um tecido tão aéreoque, tecido, se eleva por si: luz balão.
Vou apresentar um recorte do processo de promoção e transformação do indivíduo e o desvelamento da sua escrita, tendo como instrumento o texto e o programa Word. O contexto são as aulas do curso optativo de Introdução à Informática, para os alunos da Universidade Aberta para a Maturidade da PUC/SP.
Ao iniciar as aulas, com um universo de diferentes de idades (45 a 80 anos), compreendi que aprenderia a ensinar durante as aulas, com a reflexão e o diálogo com os alunos(as). Durante e depois das aulas, registrava as observações significativas sobre a repercussão das minhas intervenções, na interação entre os alunos e o computador. À medida que escrevia, simultaneamente analisava as variáveis envolvidas no ambiente e fazia considerações sobre o ser que emergia desse contato com o novo e desconhecido. Um diálogo contínuo com o outro e comigo mesma, a respeito da prática, do indivíduo e do universo que se instalava no laboratório.
Resolvi trabalhar com alguns textos para leituras, que possibilitassem reflexão, criação e autoria dos alunos. Buscar temas significativos, com o enfoque na vida e nas possibilidades de viver.
O objetivo da abordagem é incentivar a produção escrita, a autoria e a autoreflexão, tendo como suporte o computador e o programa Word. A dinâmica extrapola a aprendizagem sobre os recurso do Word (máquina) e permite o surgimento do sujeito na sua inteireza (Homem).
A produção escrita abre um outro horizonte. Os alunos estão descobrindo a máquina e descobrindo a possibilidade de escrever, expressando através da escrita, os próprios pensamentos e sentimentos em relação à vida. Descobrem o prazer de escrever, de organizar as idéias no papel e no computador.
O cenário se constrói e desconstrói em diferentes fases entrelaçadas, não necessariamente numa ordem linear: ler o texto, refletir sobre ele, construir a própria leitura, colocá-la em palavras escritas, digitar no Word, ver e ler o texto na tela, depurar a escrita e o pensamento, imprimir, partilhar oralmente com o grupo, redigitar o que for necessário, e, se for do caso, encaminhar para possível publicação no jornal Compuctador. Algumas vezes etapas são puladas se, por exemplo, o autor prefere escrever direto no computador. Os critérios não seguem um encaminhamento rígido, mas flexível, considerando as circunstâncias afloradas no coletivo e no particular.
Peço que leiam em casa e tragam por escrito a reflexão, pois no laboratório de informática, a ansiedade, em mexer no computador, compromete o prazer de escrever e deixar fluir o pensamento. Escrever no papel já é trabalhar num território desconhecido. A grande maioria dos alunos não está familiarizada com o ato de escrever e criar seu próprio texto. Sobrepor territórios desconhecidos, descobrir os recursos do computador, cria um estado de ansiedade, imobiliza o indivíduo.
Ao descobrir e mostrar a capacidade de produção e criação escrita, potencialidades são desveladas para o indivíduo.
Sou eu, ao escrever. Encontro-me nas linhas. Releio-me nas palavras e nas frases. Ao escrever, apresento-me nas linhas, crio distância para me observar e me ver de um outro jeito. As pessoas podem me conhecer e reconhecer de um outro modo.
Posso pensar, escrever, partilhar, tornar público as metamorfoses que fazem o meu mundo. Dou vazão ao desejo de ser e me apresentar por inteiro.
Confirma Orlandi: “...o sujeito é múltiplo porque atravessa e é atravessado por vários discursos, porque não se relaciona mecanicamente com a ordem social da qual faz parte, porque representa vários papéis etc.” (1988: 11)
Foi o que aconteceu com a C.L. (60 anos)que se descobriu escrevendo poesias, potencial que desconhecia em si mesma.
FORMATAÇÃO:
1.Arial, tam 12, justificado
2.Verdana, tam 16, centralizado
3.Times New Roman, 12, justificado

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